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O que dizem os teus gestos

Os gestos, enquanto parte da linguagem não verbal, são uma parte importante da comunicação.

Prestar atenção ao que dizem os gestos é uma forma importante de entender mais do que aquilo que é dito: é uma forma de entender aquilo que não é dito.

Prof Júlio Machado Vaz, conceituado psiquiatra e psicoterapeuta da cidade do Porto, costuma afirmar que a linguagem verbal (aquilo que dizemos) “fala sobre o que pensamos” e a linguagem não verbal (a forma como o dizemos – gestos, expressão, tom de voz, posição, etc ) “fala sobre a forma como nos que sentimos”.

Com efeito, se é verdade que muito daquilo que pensamos é percebido pelos outros através das nossas palavras, também não é menos verdade que muito daquilo que sentimos é percebido pelos outros através dos gestos, da voz e da linguagem corporal com que acompanhamos as nossas palavras.

O nosso corpo fala e, normalmente, de forma muito eficiente.

Eu recordo-me de, por exemplo, quando era ainda criança, o meu pai ter uma forma muito eficaz de me avisar que eu estava a ultrapassar limites. Ele não precisava de falar. Muito menos de gritar. Bastava-lhe olhar para mim e arregalar-me os olhos. Garanto-vos que eu entendia imediatamente aquilo que ele, exatamente, me estava a “dizer”. Ainda hoje recordo muito bem a intensidade desse olhar e o impacto que ele tinha em mim.

Já a minha mãe, pelo contrário, passava o dia a a ameaçar-me, a dizer que me castigava. Cansava-se de me ralhar, de me advertir, mas continuava tudo na mesma. Eu não dava muito crédito às suas ameaças e continuava alegremente a fazer as minhas asneiras de criança…

Ou seja, a linguagem verbal da minha mãe tinha muito menos impacto em mim do que um simples olhar do meu pai.

É exatamente isso que acontece com a comunicação. E num casal não é diferente.

O impacto que a linguagem de um, tem no outro, está muito mais dependente da forma como ele diz as coisas, do que das palavras ou expressões que se usa.

Por exemplo, pense na última vez em que se dirigiu a uma loja e foi atendido por uma pessoa simpática, risonha, que olhou para si nos olhos e lhe lançou um bem disposto Bom Dia! Acredito que aquele sorriso, boa disposição e tom de voz com que foi dito, o fizeram sorrir imediatamente.

Ao contrário, pense naquela vez em que foi atendido por alguém que disse “Bom Dia” com má cara, de forma quase inaudível, sem levantar a cabeça e quase deixando no ar uma sensação de aborrecimento e contrariedade em ter que atender alguém.

Recorde-se do que viu, do que ouviu e sobretudo do que sentiu.

A qual das duas pessoas se sentiu mais ligado? Com qual sentiu mais proximidade? Em qual das suas sentiu que poderia confiar para pedir uma opinião sobre a compra que ía fazer?

A linguagem não verbal influencia, e muito, aquilo que nós dizemos. Na comunicação entre um casal, não é diferente.

Não podemos esperar que o outro se limite a ouvir o que dizemos e que ignore a forma como o dizemos. Os gestos que usamos, a forma como olhamos, o sobrolho que carregamos, os olhos que arregalamos ou as posições de autoridade, de ataque, de defesa ou de confronto que adotamos, não estão escondidas. Antes pelo contrário! E geram, no outro, um uma interpretação sobre aquilo que dizemos.

Por exemplo, imagine que, ontem,  se esqueceu que era o aniversário do vosso casamento, ou de uma outra data especial na vossa relação.

Hoje, ao chegar a casa, foi confrontado com essa situação e decidiu dizer que lamenta. Ao dizer  “Desculpa, lamento ter-me esquecido” pode dizê-lo de várias formas.

Por exemplo pode dizer “Desculpa, lamento ter-me esquecido”  e, simultaneamente, encolher os ombros e carregar o semblante em sinal de mas isso não tem importância nenhuma. Porque  para si, realmente, não tem. Mas para o outro tem e a sua expressão pode magoá-lo.

Ou, por exemplo, pode dizer “Desculpa, lamento ter-me esquecido” mas com um ar irónico. Porque, na verdade, acha ridículo que se dê tanta importância a uma data. Essa ironia pode gerar um impacto negativo e gerar uma discussão.

Também pode dizer “Desculpa, lamento ter-me esquecido”  com um ar francamente aborrecido pois gostaria de se ter lembrado e isso deixa-o triste. Neste caso, a data até pode ser importante para si (ou não) mas é francamente importante para si lembrar-se dela, porque sabe o quanto a data é importante para o outro.

Com certeza que, ao dizer “Desculpa, lamento ter-me esquecido” com sinceridade, o seu rosto, o seu corpo e o seu semblante, irão confirmá-lo. E o outro vai entender que a relação é importante para si, ainda que a data até possa não ser. A verdade é que gostaria de se ter lembrado e lamento ter-se esquecido.

A forma como se expressa com o seu par, os gestos que usa, as expressões, a atitude e o seu tom de voz, terão sempre um grande impacto na forma como o outro se vai sentir.

E no que vai acontecer a seguir. Lembre-se da história do meu pai.

Por isso, se quer ter uma relação saudável e promover uma boa comunicação, não se esqueça de ser sincero e de dizer aquilo que pensa. Com as suas palavras e com os seus gestos.

Evitará, com certeza, muitos conflitos!